quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

FIM DOS TEMPOS: EX-PRESIDENTE DO PSDB, AMIGO DE AÉCIO NEVES É CONDENADO À 20 ANOS DE PRISÃO EM MINAS (Fonte: ESTADÃO)

Ex-governador de Minas e ex-presidente nacional do PSDB, Eduardo Azeredo é condenado à 20 anos de prisão por crimes de lavagem de dinheiro e peculato
Foto: Dida Sampaio/Estadão
Eduardo Azeredo. Foto: Dida Sampaio/Estadão
O ex-governador de Minas Gerais (1995-1999) e ex-presidente nacional do PSDB, Eduardo Azeredo foi condenado nesta quarta-feira, 16, pela Justiça de Minas Gerais a 20 anos e 10 meses de prisão pelos crimes de lavagem de dinheiro e peculato (desvio de dinheiro público) devido ao seu envolvimento no esquema que ficou conhecido como mensalão tucano. Com a sentença desta quarta, é o primeiro político do PSDB condenado criminalmente no esquema do mensalão 17 anos após os crimes ocorrerem.

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Na sentença, a juíza Melissa Pinheiro Costa Lage da 9ª Vara Criminal de Belo Horizonte, determina que Azeredo já comece a cumprir a pena na prisão e relembra a trajetória política do tucano, que presidiu o PSDB e governou o Estado por quatro anos. Ela questiona a versão de que o tucano não saberia da existência do esquema montado junto com o empresário Marcos Valério enquanto ele era chefe do executivo mineiro. “Ora, acreditar que ele (Eduardo Azeredo) não sabia de nada e foi um simples fantoche seria o mesmo que afirmar que não possuímos líderes políticos, que os candidatos a cargos majoritários são manipulados por seus assessores e coordenadores políticos.”, assinala a magistrada.
Azeredo foi condenado por  participar do esquema que desviou R$ 3,5 milhões de estatais mineiras por meio das empresas de publicidade de Marcos Valério, que ficou conhecido como valerioduto e também abasteceu o esquema petista anos depois, para sua campanha à reeleição ao governo de Minas, em 1998. Na ocasião, o tucano foi derrotado por Itamar Franco (então do PMDB).  Valério já foi condenado pelo Supremo Tribunal Federal pelo seu envolvimento no mensalão do PT e atualmente cumpre pena de 37 anos de prisão.
O tucano teria utilizado contratos de publicidade de fachada para os eventos esportivos Enduro da Independência, Mundial de Supercross e Iron Biker patrocinados pelas estatais mineiras Comig (Companhia de Desenvolvimento de Minas Gerais, atualmente Codemig), Copasa (Companhia de Saneamento de Minas Gerais) e o extingo Bemge (Banco do Estado de Minas Gerais, privatizado em 1998) por meio da SMP&B Comunicação e da DNA propaganda, usadas por Marcos Valério para abastecer os esquemas petista e tucano. Esse dinheiro, segundo a juíza Melissa da Costa Lage, abasteceu o caixa 2 da campanha de Azeredo em 1998. “Criou-se uma organização criminosa complexa, com divisão de tarefas aprofundada, de forma metódica e duradoura”, assinala a juíza na sentença.
Na sentença de 125 páginas, a magistrada cita o laudo do Instituto Nacional de Criminalística que aponta que os recursos que deveriam ser utilizados para o patrocínio, “ao invés de terem sido aplicados nos mencionados eventos esportivos, foram destinados à campanha do acusado”, diz a sentença. O laudo identificou pagamentos de apenas R$98.978,00 da SMP&B que poderiam ter vínculo com os eventos esportivos.
Os demais recursos, explica a sentença, foram repassados para a campanha do tucano por meio de um complexo esquema financeiro utilizando: as próprias empresas de Valério para quitar gastos de campanha, saques de recursos das empresas de publicidade para evitar o rastreamento do dinheiro e ainda repasses para contas de empresas de Valério no Banco Rural, também utilizado no esquema petista e que foi à falência após o julgamento do mensalão pelo Supremo.
Os repasses para essas contas foram justificados como uma forma de quitar contratos  empréstimos simulados com as empresas de Valério e o Rural e, segundo rastreou a polícia federal, tinham vários destinos, sendo um deles inclusive uma gráfica que prestou serviços para a campanha de Azeredo em 1998.
“No decorrer dos exames, foram observadas constantes mudanças de agências bancárias e de instituições financeiras, efetuadas pelas empresas, com abertura de diversas contas correntes, saques e depósitos em espécie, sem identificação dos reais favorecidos ou depositantes, transferências consecutivas de valores, entre contas da mesma empresa ou entre as empresas do grupo”, aponta o laudo da Polícia Federal sobre a movimentação das empresas de Valério.
A partir do conjunto de provas e de depoimentos colhidos ao longo da investigação, a juíza conclui então que, “foi criado um caixa robusto para a campanha eleitoral, com arrecadação de fundos de diversas fontes, inclusive de recursos públicos da Copasa, da Comig e do Bemge aproveitando-se do uso da máquina pública”, assinala a sentença.
“Utilizando-se das empresas de publicidade de propriedade de Marcos Valério Fernandes de Souza realizou-se o processo de legitimação do dinheiro ilícito e sua distribuição aos colaboradores da campanha, recursos esses que não constaram na prestação de contas apresentada perante a Justiça Eleitoral pela coligação PSDB-PFL”, segue a juíza na sentença.
A reportagem telefonou para o diretório estadual do PSDB em Minas, mas não encontrou ninguém para comentar o caso. O celular de Eduardo Azeredo não respondeu aos telefonemas da reportagem. O escritório do advogado José Gerardo Grossi, que representa o tucano, também não atendeu às ligações nesta quarta.

(Fonte: ESTADÃO)