“Em minha opinião, a ascensão de Marina n pode ser considerada mais como
“reflexo” pela comoção gerada da morte trágica de Eduardo Campos.
Penso que possa ser outra coisa. No Brasil, os eleitores procuram
administradores, gerentes, quando se trata de disputas municipais e
estaduais. Nas eleições presidenciais, contudo, buscam talvez a
personificação de uma “utopia” possível. FHC e Lula chegaram ao Planalto
nas asas de grandes ambições. Hoje, é Marina quem aparece como a
representação de uma ruptura profunda.
Talvez na visão do eleitorado
a “utopia” associada a FHC possa ser sintetizada talvez pelas ideias de
estabilização e modernização. Porém, abandonou a trilha das reformas e,
borrou o horizonte “utópico” com as cores cinzentas da "capacidade
gerencial". As candidaturas de Alckmin (2006) e Serra (2010) não foram
previsíveis fracassos eleitorais, mas inegáveis desastres políticos.
Assim, para esse eleitorado de agora, talvez Aécio seja um herdeiro da
perda de rumo e, mesmo que tateie na direção correta, jamais conseguirá
atravessar a fronteira do eleitorado tucano para seduzir a maioria
desencantada.
Já “utopia” associada a Lula na visão do eleitorado
possa ser sintetizada pelas ideias de igualdade e justiça social.
Inflado pelos ventos de popa da economia mundial, o potencial “utópico”
pode ter durado talvez dois mandatos. E corre sério risco de se encerrar
no quadriênio de Dilma. Talvez o eleitorado “ache” que reformas sociais
praticamente esgotaram-se nas políticas de crédito e transferência de
renda que ajudaram a estimular o consumo popular. Não sei se para o
“Bem” ou para o “Mau”, mas, o mapa das intenções de voto (no momento)
para Dilma, pode estar evidenciando a regressão política. O qual talvez
tenha sido traçado para o poder entre os eleitores de alta e média
escolaridade dos grandes centros urbanos. O eleitorado pode ter chegado a
conclusão que Dilma não foi a “escolha” ideal de Lula.
Desta forma,
Marina aparece como representação (talvez terceira “utopia”) para boa
parte do eleitorado. O mapa do voto dela parece bastante inclinado para a
direção do Centro-Sul e das maiores cidades, revelando assim talvez,
que a vontade majoritária de “mudança” pode e/ou tende vim a se coagular
em torno dela. A "nova política", (um tanto misteriosa) da candidata,
traduz a ambição de recuperação do Estado como coisa pública, isto é,
como instrumento dos cidadãos para a geração de bens públicos.
Porém, a "ruptura" proposta por Marina aninha-se na palha de um
paradoxo. De um lado, a candidata investe contra os partidos
adversários, apresentando-os como facetas polares da mesma "velha ordem"
que deve ser superada. De outro, ensaia um estranho convite para que os
dois partidos rivais dela ocupem lugares no seu “hipotético” governo. O
q significaria a repentina abolição, por um mero ato de vontade, das
divergências de fundo sobre o Estado, a economia e a sociedade que
marcam o debate brasileiro desde o fim da ditadura militar.
O
discurso da "terceira via" é, sempre, tão atraente quanto perigoso.
Defini-la como a união dos polos políticos tradicionais equivale a
dissolver a ideia de mudança no caldo ralo de um falso consenso. A
finalidade utilitária de rebater a crítica que aponta as carências de
uma estrutura partidária sólida e de quadros administrativos
experimentados no movimento pró Marina. Contudo, atrás delas, divisa-se o
espectro do governo de unidade nacional, recurso ao qual as democracias
apelam somente em casos de guerra ou colapso social.
Assim, para
esse eleitorado do momento eleições são sobre “verossimilhança”, não
sobre verdade. Uma boa campanha eleitoral é aquela capaz de reduzir a
distância entre uma e outra. Por enquanto, a “utopia” mudancista
personificada em Marina circula na esfera da “verossimilhança”.
O discurso da "terceira via" é, sempre, tão atraente quanto perigoso.
Por Aleksim Oliveira
Presidente da Liga Desportiva Valentense
Diretor do Hospital Municipal de Valente
Marina Silva
O discurso da terceira via é sempre tão atraente quanto perigoso.